Recentemente, ao assistir uma entrevista que Steve Wozniak concedeu à Hult International Business School, entrei em uma reflexão de todo o meu histórico profissional nas empresas em que trabalhei. Durante toda essa jornada, reconheci a importância da cultura corporativa e como ela pode influenciar os valores éticos e profissionais de uma equipe. Vamos discutir sobre este assunto?
Introdução
Iniciei minha carreira trabalhando como técnico em informática em uma assistência técnica em computadores. Em seguida, trabalhei como operador no Centro de Processamento de Dados de uma rede de supermercados, Programador Pleno em uma indústria de móveis, Programador Pleno em uma empresa de desenvolvimento de software e hoje atuo como Analista Implementador. Parece uma carreira significativa mas, na realidade, estou longe de conhecer todas as incógnitas e artimanhas do mundo corporativo. Mesmo assim, carrego comigo algum conhecimento que obtive ao longe desses anos de trabalho, principalmente relacionado à cultura interna das empresas.
Antes de prosseguir, ressalto que as opiniões expressas nesse artigo não são necessariamente a mesma visão de outros profissionais. Você mesmo, leitor, provavelmente irá discordar em alguns pontos em virtude do perfil da sua experiência profissional. De qualquer forma, o objetivo deste artigo é compartilhar o aprendizado que agreguei convivendo em diferentes ambientes corporativos.
Horas extras
Na minha opinião, a partir do momento que um funcionário começa a fazer horas extras, alguma coisa está errada. Talvez houve uma falha na elaboração do cronograma, na estimativa de tempo, na falta de recursos ou um equÃvoco durante a negociação com o cliente. Este último é o mais comum. Os responsáveis pelo negócio normalmente se comprometem a um prazo praticamente impossÃvel para produzir um produto com qualidade. O maior problema disso tudo é o fluxo top-down (ou vertical) de pressão que nasce desse prazo incoerente, ou seja, a pressão vai escorrendo entre a equipe até cair nos ombros dos desenvolvedores. Estes, por sua vez, são os que ficam até nove, dez, onze horas da noite para terminar as implementações.
Acredito que as empresas devem manter um bom senso ético nessa questão, afinal, horas extras representam um tempo consumido da vida pessoal de um desenvolvedor. Além disso, horas extras em excesso podem comprometer a produtividade do desenvolvedor naquela semana. Quando a mente não descansa o suficiente, ela não produz. Se as horas extras realmente forem necessárias, então que sejam revertidas em algum benefÃcio para o funcionário, como folgas, gratidões ou remuneração.
Comunicação horizontal
Um aspecto que sempre valorizei nas empresas é a comunicação em nÃvel horizontal. Nessa estrutura, todos podem se comunicar sem nenhuma fronteira, independente de sua posição na escala executiva. Em outras palavras, um desenvolvedor pode bater na porta do diretor da empresa para discutir qualquer assunto, como se fossem companheiros de sala. Mas vale ressaltar: não estou afirmando que é correto “passar por cima” dos superiores e reportar problemas ao diretor.
A minha postura neste ponto é evitar que as ideias ou sugestões de um desenvolvedor passem por duas ou três pessoas até chegarem aos ouvidos do diretor. Neste fluxo, a informação pode sofrer transformações e chegar ao destino de forma distorcida. Conhece a história do telefone sem fio? Então, é disso que estou falando.
Quando há uma comunicação horizontal, os funcionários se sentem mais à vontade para expor suas ideias e sugestões relacionadas ao seu campo de trabalho. Muitas vezes, essas ideias trazem inovações notáveis que passam despercebidas pela alta administração. Portanto, ouvi-las pode resultar em melhorias nos processos internos e refletir na qualidade do produto ou serviço da empresa.
Responsabilidade social
Acho extremamente importante uma empresa ter consciência de que é ela quem fornece condições para o sustento de seus funcionários. Da mesma forma, também acho ponderoso o fato de que geralmente o funcionário passa mais tempo na empresa do que com a própria famÃlia. Uma empresa que busca responsabilidade social tende a se curvar a esses fatos. Elas reconhecem o empenho de cada recurso humano dentro da organização e procuram maximizar oportunidades, benefÃcios e aberturas para seus funcionários.
Steve Wozniak, na entrevista, citou um exemplo que ocorreu na Hewlett-Packard (HP) há alguns anos: certa vez, quando a empresa enfrentou uma forte crise financeira, ao invés de demitir uma fração de funcionários para cortar custos, a empresa decidiu reduzir o salário de todos os funcionários em 10% para não gerar nenhuma demissão. Todos compreenderam a situação e ninguém perdeu o emprego. Isso é ser socialmente responsável.
Reuniões
Alinhar o status do projeto com todos os envolvidos e trabalhar estratégias para atingir os objetivos é importante, porém, tudo que é excessivo, é ruim. Já trabalhei em empresas que organizavam até três reuniões por dia para discutir projetos ou soluções. E mais, cada reunião durava em torno de 1 hora. Isso representa quase 40% de um expediente de 8 horas. Claro, há cargos na empresa em que reuniões fazem parte do trabalho (como gerentes de projetos, analistas de negócios, coordenadores…), porém, por outro lado, há também funções nas quais reuniões podem gerar desaproveitamentos, como funções técnicas.
Quando há um prazo para ser cumprido (e ainda mais se este prazo estiver curto), reuniões são um risco para agravar a situação. O tempo desperdiçado em reuniões desnecessárias poderia ser devidamente alocado como tempo de trabalho, principalmente quando a equipe está envolvida coma as atividades em atraso.
É importante destacar que não sou contra reuniões, mas sou a favor de que elas sejam objetivas, pautadas (com uma lista de itens a serem discutidos), curtas (se possÃvel), e que somente os participantes necessários sejam convocados.
Formação de equipes
Algumas empresas, ao trabalhar com projetos complexos e crÃticos, tomam a decisão de alocar os melhores desenvolvedores, analistas e testadores em uma mesma equipe, na esperança de haja uma fusão dos poderes e o projeto termine antes do prazo como um passe de mágica. Para mim, isso não funciona.
Eu aposto em equipes sólidas. Equipes que carregam uma confiança mútua. Equipes que conhecem os pontos fortes e fracos de cada integrante e sabem lidar com essas caracterÃsticas. Equipes que conhecem suas limitações e suas competências. Se a empresa alocar um projeto crÃtico para uma equipe que já está entrosada, garanto que os resultados serão positivos.
Isso já aconteceu em uma empresa que eu trabalhava. Os gestores reuniram os melhores profissionais de equipes diferentes para formar uma “super-equipe”. Durante o projeto, surgiram alguns desentendimentos entre os integrantes por causa de divergências no modo de trabalho. Por exemplo, alguns desenvolvedores defendiam a ideia de utilizar Interfaces no projeto de software, enquanto outros insistiam em criar classes abstratas. Uma das opções teve de ser selecionada, portanto, uma parte da equipe trabalhou contrariada nesse aspecto. Ademais, ao remover profissionais experientes de uma equipe, a empresa deve ter ciência de que essa equipe se enfraquece e, consequentemente, a produtividade não poderá ser a mesma por algum tempo.
Comunidade
Acho importante uma empresa se importar com a comunidade em que ela está envolvida, promovendo cursos, treinamentos e capacitação dos clientes externos. Se uma empresa desenvolve um software para o ramo tributário, por exemplo, por quê não planejar um evento sobre tributação para qualificar os clientes e demonstrar como as funcionalidades do software atendem aos requisitos?
Apesar de se tratar de um aspecto mais externo, acredito que também esteja atrelado à cultura corporativa de uma empresa.
Já ouviram falar no programa Great Place to Work? É uma espécie de pesquisa para apurar as melhores empresas para se trabalhar em uma determinada região, paÃs ou ramo de negócio. A cultura corporativa é um dos fatores que são avaliados ao mensurar a satisfação dos funcionários dentro da empresa. Logo, é extremamente importante para o reconhecimento da empresa no mercado de trabalho e aproximação de novos clientes.
Até a próxima semana, leitores.
Abraço!