Gold Card

Alô, meu povo! Tudo certo?
Há algum tempo, publiquei um artigo sobre algumas sugestões de como uma equipe ágil pode aproveitar o tempo de sobra no final de uma Sprint, caso o Sprint Backlog seja finalizado antes do prazo. Uma das sugestões mencionadas é a atividade de instalação, atualização ou aprendizagem de novas ferramentas que possam aprimorar a produtividade do desenvolvedor. O artigo de hoje pode ser considerado como uma “expansão” dessa sugestão, apresentando um artefato pouco conhecido no mundo ágil: o Gold Card.

O que é Gold Card?

Bom, sabemos que um dos recursos mais notórios do Desenvolvimento Ágil é o Scrum Board, ou Kanban Board, que consiste em um quadro no qual todas as tarefas são representadas por cartões (post-its) e movidos conforme o progresso da atividade, ou seja, pendente (to do); em andamento (doing); ou concluído (done). Geralmente, cada cartão no board é equivalente a uma nova funcionalidade que será adicionada no software ou a uma correção de um bug.

Pois bem, dito isso, alguns Agile Coaches – profissionais que orientam, recomendam melhorias e indicam práticas ágeis – sugerem a introdução de um novo tipo de cartão no board, chamado Gold Card (cartão de ouro). Diferente dos cartões convencionais que representam requisitos selecionados na Sprint Backlog, o Gold Card tem o objetivo de alocar um desenvolvedor para testar novas ferramentas, descobrir novas ideias, limpar o código ou criar estudos de caso para apresentar sugestões no software. Na verdade, o Gold Card permite que o desenvolvedor faça o que bem desejar, desde que esteja relacionado ao contexto do trabalho.

A ideia principal é proporcionar um tempo para que o desenvolvedor realize atividades nas quais mais se identifica. Por exemplo, se o interesse é por novas tecnologias, talvez estudar formas de aplicá-las no software seja uma boa ideia. Por outro lado, caso se mostre mais comprometido em aumentar a produtividade coletiva, o desenvolvedor pode experimentar (ou desenvolver) novas ferramentas para serem utilizadas pela equipe.

Este último exemplo é um caso real. Já trabalhei com um desenvolvedor que observou as dificuldades técnicas que tínhamos na equipe e desenvolveu um pequeno aplicativo que automatizava a maioria das nossas atividades diárias, como criar branches no controle de versões, ajustar paths de bibliotecas, configurar bases de dados e preparar ambientes de testes. O nosso nível de produtividade aumentou nitidamente.

Como utililzá-lo?

Em termos técnicos, o Gold Card é semelhante aos outros cartões: passa por todas as colunas tradicionais do board. Isso significa que, quando um Gold Card é movido da coluna “To Do” para “Doing”, o respectivo desenvolvedor é alocado para esse tempo livre.

A única diferença pode ser o aspecto visual do cartão – enquanto os cartões convencionais são diferenciados por cores para indicar prioridades ou responsabilidades, o Gold Card deve ter uma aparência particular, como uma listra, figura ou um formato diferente, justamente para não ser confundido com as user stories. Caso a equipe queira levar o nome ao pé da letra, o cartão pode ser dourado, embora seja difícil encontrar post-its dessa cor, haha.

Depois de “finalizar” o Gold Card, também é interessante que o desenvolvedor demonstre os resultados dessas atividades, ou, talvez melhor, faça uma pequena documentação dessa experiência. Aos poucos, esse conjunto de experiências pode se transformar em uma grande base de conhecimento que pode beneficiar todos os membros da equipe, principalmente os novos colaboradores.

O Gold Card pode afetar os prazos das Sprints?

Se o Gold Card for incluído no board sem nenhum planejamento prévio, é bem provável que afete os prazos, sim! É importante esclarecer que os Gold Cards devem ter o mesmo peso das user stories no Sprint Backlog, já que, na prática, o tempo que seria despendido em uma nova funcionalidade será utilizado pelo Gold Card. É altamente recomendável que estes cartões sejam ponderados nas estimativas e reuniões de planejamento.

Antes de finalizar o artigo, vale ressaltar que a proposta por trás do Gold Card se resume na motivação da equipe. Indiretamente, ao proporcionar este tempo livre, a empresa estará acrescentando valor ao desenvolvedor, ao mesmo tempo em que se beneficia com as ideias, inovações ou ferramentas apresentadas. Afinal, quanto maior a produtividade e motivação da equipe, melhor para a empresa, não é? Além disso, para o desenvolvedor, pode ser gratificante ter a oportunidade de buscar inovação no próprio ambiente de trabalho.

 

Até a próxima, amigos!


André Celestino