A fusão do desenvolvedor com a área de negócios

Um estudo recente sobre mercado de trabalho indicou que houve uma mudança no perfil do profissional de TI, claro, incluindo os desenvolvedores. Essa mudança contempla a visão estratégica do profissional na área de negócios das empresas, bem como a capacidade em contribuir com os resultados. A propósito, você sabe por que a função de “Analista Programador” surgiu?

Hoje já não basta ter apenas conhecimentos técnicos em programação. O desenvolvedor também precisa compreender como os processos de uma empresa funcionam e agregar uma visão estratégica de negócio. Este é um grande diferencial no momento da contratação.

O novo perfil do profissional de TI é um efeito da Era do Conhecimento. Nos últimos anos, TI deixou de ser transacional e abriu as portas para o desenvolvimento colaborativo nas empresas.

Um pouco da minha experiência

Para ser honesto, há alguns anos eu não acreditava nessa mudança, mas dois eventos aconteceram na minha carreira e provaram que eu estava equivocado.

Trabalhei por 4 anos em uma rede de supermercados e obtive uma experiência ampla nesse ramo de negócio: lançamentos de notas fiscais, processamento de dados contábeis, custos, margens de venda, controle de estoque e prazos financeiros. No entanto, após terminar a faculdade, decidi me inclinar para a área de programação de software e procurar algumas vagas para desenvolvedor na região.

Certo dia, uma empresa de desenvolvimento entrou em contato para marcar uma entrevista. Fiz o possível para comparecer já no dia seguinte. Durante a entrevista, um dos gestores disse:

André, temos 5 candidatos para a vaga de desenvolvedor. Porém, iniciamos um projeto para o desenvolvimento de um software para supermercados e o seu currículo indica que você tem 4 anos de experiência na área, então você é a nossa prioridade.

Naquele momento, reconheci o quanto a minha experiência no ramo de supermercados foi útil, mas não foi só isso. Na mesma entrevista, o gestor ainda deixou claro que, apesar de os outros candidatos serem pós-graduados, eu tinha essa experiência como diferencial.
Na concepção deles, o meu conhecimento técnico somado com o conhecimento no ramo de supermercados era mais importante que a pós-gradução dos outros candidatos, além de ser fundamental para alavancar o projeto. E agora vejo como estavam certos. No fim das contas, recusei a vaga por outros motivos profissionais, mas levei este fato comigo.

Exemplos

Coincidentemente, na mesma semana, recebi outra vaga por e-mail que dizia o seguinte:

Desenvolvedor Delphi 7 com experiência mínima de 2 anos
Conhecimentos em SQL Server e Firebird
Diferencial: Conhecimentos em Business Intelligence

Business Intelligence? De fato, algo realmente estava me fazendo ter uma ideia diferente.
Outra vez, recebi uma proposta para trabalhar como Analista Implementador, no qual é o cargo que exerço atualmente. “Implementador”… certo, eu iria trabalhar com desenvolvimento de software, implementação, programação, mas o que aquele “Analista” estava fazendo ali? Na entrevista, não hesitei em perguntar, e essa foi a resposta:

Como Analista Implementador, você estará envolvido com a equipe de análise, produto, usabilidade e sustentar decisões na regra de negócio do cliente.

Era visível que eles queriam dizer: “Precisamos de um programador com conhecimento técnico, mas que ao mesmo tempo seja comunicativo, proativo e seja capaz de se relacionar com a área de negócios quando necessário“. Legal, me parecia um desafio! Apesar de nunca ter trabalhado em um ambiente de desenvolvimento intimamente ligado com a área de negócios, seria uma boa oportunidade para me encaixar nesse novo perfil que o mercado exige. Embora eu não tivesse uma experiência prévia com a regra de negócio do cliente, estava disposto a aprender.

Conclusão

Desde então, venho trazendo comigo toda a bagagem que aprendi não somente no âmbito técnico, mas também de negócios. Mesmo que as regras de negócio sejam diferentes, há ferramentas, processos e objetivos bem semelhantes entre elas. Ao contrário do que eu pensava, o que aprendemos sobre o ramo de atividade do cliente não é abandonado ou perdido quando mudamos de emprego. Uma porção considerável desse conhecimento é extraída e transformada em experiência de negócio.

O objetivo deste artigo não é dar ênfase somente na regra de negócio, mas também nas características pessoais do desenvolvedor. Oras, se você é um desenvolvedor recém-ingressado no mercado de trabalho, naturalmente não terá experiência com regras de negócio, não é? Neste caso, invista na sua capacidade de comunicação, liderança e processos de negócio, ou seja, no seu caráter profissional. É isso que estão exigindo!
Esqueça aquela época em que diziam que o programador era pago somente para programar. Hoje ele deve ser capaz de se interagir com a equipe e manter a transparência do seu trabalho. Eu ia até entrar no mérito do Desenvolvimento Ágil, mas vou deixar para outro artigo…

 

Abraço, pessoal!


André Celestino